domingo, 3 de abril de 2011

"Veteranos de Guerra"

Hoje, transcrevo um texto da Martha Medeiros publicado na Zero Hora de hoje: "Outro dia li o comentário de alguém que dizia que... o casamento é uma armadilha: fácil de entrar e difícil de sair. Como na guerra. Aí fiquei lembrando dos desfiles de veteranos de guerra que a gente vê em filmes americanos, homens uniformizados em suas cadeiras de roda apresentando suas medalhas e também suas amputações. Se o amor e a guerra se assemelham, poderíamos imaginar também um desfile de mulheres sobreviventes desse embate no qual todo mundo quer entrar e poucos conseguem sair - ilesos. Não se perde uma perna ou braço, mas muitos perdem o juízo e alguns até a fé. Depois de uma certa idade somos todos veteranos de alguma relação amorosa que deixou cicatrizes. Todos. Há inclusive os que trazem marcas imperceptiveis a olho nú, pois não são sobreviventes do que lhes aconteceu, e sim do que não lhes aconteceu: sobreviveram à irrealização de seus sonhos, que é algo que machuca muito mais. São os veteranos da solidão. Há aqueles que viveram um amor de juventude que terminou cedo demais, seja por pressa, inexperiência ou imaturidade. Casam-se depois com outra pessoa constituem família e são felizes, mas dói uma ausencia do passado, aquela pequena batalha perdida. Há os que amaram uma vez em silêncio, sem se declararem e trazem dentro do peito essa granada que não foi detonada. Há os que se declararam e foram rejeitados, e a granada estraçalhou tudo por dentro, mesmo que ninguem tenha notado. E há os que viveram amores ardentes, explosivos, computando vitórias e derrotas diárias: saem com talhos na alma, porém mais fortes do que antes. Há os que preferem não se arriscar: mantém-se na mesma trincheira sem se mover, escondidos da guerra, mas ela os alcança, sorrateira, e lhes apresenta um espelho para que vejam suas rugas e seu olhar opaco, as marcas precoces que surgem nos que, por medo de se ferir, optaram por não viver. Há os que têm a sorte de um amor tranquilo: foram convocados para serem os enfermeiros do acampamento, os motoristas da tropa, estão ali para servir e não para brigar na linha de frente, e sobrevivem sem nem uma unha quebrada, mas desfilam mesmo assim, vitoriosos porque foram imprescindíveis ao limpar o sangue dos outros. Há os que sofrem quando a guerra acaba, pois ao menos tinham um ideal, e agora não sabem o que fazer com um futuro de paz. Há os que se apaixonam por seus inimigos. A esses, o céu e o inferno estão prometidos. E há os que não resistem até o final da história: morrem durante a luta e viram memória. Todos são convocados quando jovens. Mas é no desfile final que se saberá quem conquistou medalhas por bravura e conseguiu, em meio ao caos, às neuras e às mutilações, manter o coração ainda batendo."



E há ainda muitas outras espécies de veteranos nessa Guerra.



Mas o que eu ousaria acrescentar é que muitos desses mutilados, sobrevivem sem perder o juízo nem a fé.

Sem medalhas, mas com o coração ainda batendo...

Sandra

Domingo- 03 de abril de 2011.

Um comentário:

  1. é a mais pura verdade, não é mesmo mãe.
    somente quem se arrisca é capaz de entregar seu coração a pleno e mais vitoriosos são aqueles que conseguem mater-se Sãos.
    Te amo
    SM

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